A viagem da Mark Up ao Festival Path 2018

Foram mais ou menos 300 horas de palestras na 6ª edição do Festival Path, um dos maiores eventos de criatividade e inovação do Brasil. Impossível assistir a tudo e ter uma única opinião sobre o festival. Por isso e em favor da troca de ideias, nosso pessoal de Criação, Planejamento e Inteligência compilou suas opiniões em 4 pequenas crônicas que só têm uma coisa em comum: a diferença entre elas.

Capítulo 1

TOM ZÉ, REGINA CASÉ, AGEÍSMO E MISCIGERAÇÃO.

Por Julinho Andrade – Diretor de Criação e Planejamento da Mark Up

Parece que a idade faz a gente gostar ainda mais da cama quentinha que não deixa a gente se levantar, ainda mais com o frio que fez em São Paulo esses dias. Mas vamos nessa. Era o segundo dia do Path, o festival de inovação e criatividade organizado pelo Panda Criativo. O pessoal da agência já estava tomando café em frente ao Tomie Ohtake. Eu e minha Dani tomamos coragem e partimos.

Entre todas as coisas que a gente viu, aprendeu, interagiu, curtiu e descurtiu, me encantei com o bate-papo entre a colunista de arte Roberta Martinelli e o cantor, compositor e sempre figura Tom Zé. Impressionante como Tom Zé se mantém na vanguarda. Fala com uma erudição que todo mundo entende e mostra um conhecimento absurdo, sem perder a humildade que só os verdadeiros gênios possuem. Tudo isso aos 81 anos!

Corta pra palestra seguinte: Regina Casé. Carismática como poucos e animada como sempre, ela começou contando o caso de uma mulher que deu a maior força para a filha pintar o cabelo de rosa. Perguntada se também pintaria o cabelo como a filha, a mulher respondeu: “Eu não tenho mais idade pra isso”.

Incomodada, Regina Casé riscou umas palavras da frase e definiu o tema da sua palestra: EU NÃO TENHO IDADE. Em inglês, esse conceito já existe e se chama Ageless. Surgiu por causa de uma geração na faixa dos 60, 70 e 80+ que não se comporta como os velhinhos de antigamente. Em português, ainda não existe uma palavra bacana pra definir o conceito. Ageísmo é a mais próxima, mas Regina se recusa a usá-la porque é uma palavra feia que dói. Além disso, parece doença, tipo reumatismo. Ela até pediu a ajuda da plateia para pensar em uma palavra melhor.

Incluindo-se entre os “sem idade”, a apresentadora disse que se sente como um garoto negro com 16 anos de idade. Claro que ela respeita as limitações físicas dos seus 64 anos (sessenta e quatro!), principalmente quando seu filho de 5 anos pede para brincar de luta com ela. Mas o fato é que, assim como Tom Zé, suas ideias, linguagem e atitudes continuam atuais. E ela continua sedenta por desafios que a tirem da zona de conforto. Em breve, vai estrear um programa sobre algo que desconhece profundamente: inteligência artificial. E está superanimada e ansiosa com o projeto.

Outra parte que me chamou a atenção na palestra foi quando Regina Casé destacou a importância da troca de experiências entre gerações. Hoje, as pessoas formam guetos nas próprias casas. Adultos para um lado, adolescentes no quarto e crianças em algum outro canto. A troca de histórias, alegrias e frustrações está cada vez mais rara. Os mais velhos não aprendem com os mais novos e vice-versa. Não pensei em nenhum termo bacana para traduzir ageless, mas, para definir essa necessidade de investir na convivência entre pessoas de idades diferentes, que tal “miscigeração”?

Depois das palestras, seguimos para o Pirajá para tomar uns chopes blacks e saborear um belo parmegiana, certos de que é preciso aproveitar cada minuto da vida do jeito que a gente quiser. E que venha o envelhecimento. Já que a outra opção é péssima.

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